13 março 2007

Quase-Grande Reportagem: Clubbing

Numa tentativa de cobrir todos os eventos culturais relevantes dignos dessa designação, o NWP fez-se acompanhar da F.O. Dias Nu-Muzak no passado sábado - 3 de Março - à terceira edição do Clubbing. Esta nova iniciativa da Casa da Música visa explorar sonoridades electrónicas novas e velhas (e de qualidade duvidosa em alguns casos - "Slimmy, we love you!") no primeiro sábado de cada mês. Os cabeças de cartaz no sábado passado eram os britânicos Motor, mas o destaque óbvio ia para Karl Bartos, ex-frio do colectivo robofónico Kraftwerk.

Além dos concertos a pagar na sala 2 - agradável, diga-se em abono da verdade - havia ainda um conjunto de actividades mais ou menos culturais de acesso gratuito. Já lá vamos. Os repórteres chegaram à Casa da Música (CdM) no momento oportuno, isto é, depois de Vítor Gama dar o seu contributo para a lógica chega-ao-fundo-e-escava no que a organização descreveu como "música experimental-minimal-meditativa" e mesmo no final do concerto do andrógino (não é um elogio) do português-mas-UK-wannabe Slimmy. Mas a diversão começou bem antes da entrada na sala 2. A simples socialização no "foyer" da sala portuense já justificava a deslocação. Uma primeira incursão no Cyberbar regalou os repórteres com a visão do "80s guru" português - falamos, claro, de Rui Reininho do Grupo Novo Rock. O vivido boémio encontrava-se presente mais que provavelmente a convite da CdM que apostava na presença de caras conhecidas do público geral para combater o efeito Baile dos Vampiros, esse evento basilar para o pessoal de 2000. Rui Reininho fazia questão de ser visto com o seu blazer de padrão tweed vermelho que parecia engoli-lo.


Der Pate - Karl Bartos


Em noite de actividade cultural efervescente, a CdM tinha ainda agendada a ante-estreia do filme "Brava Dança", documentário sobre a "anomalia" Heróis do Mar (em versão crítica cinematográfica para a próxima semana). Os dois repórteres não possuíam, no entanto, os convites que lhes permitissem a entrada de maneira que preferiram permanecer no carro a folhear revistas "Night&Style". No curto percurso a pé até à CdM, todos os jovens se assemelhavam potenciais "clubbers" de ocasião, o que divertiu os repórteres em apostas fictícias sobre o destino - Clubbing ou Baile dos Vampiros - dos foliões excursionistas, ávidos de beeps&beats e de novos números para a sua lista de contactos.


De volta ao "foyer" onde tudo acontecia, os repórteres NWP/F.O. Dias Nu-Muzak encontraram-se com as "groupies" referidas no artigo do Portugal Fashion, de volta aos eventos sociais mais badalados em busca da foto que enfeitaria o seu hi5 até ao final dos dias e ainda com o editor sénior da F.O. Dias Nu-Muzak. Começariam então as verdadeiras aventuras - as sonoras. Antes, uma pequena incursão na casa de banho porque nestas ocasiões a festa se faz em todas as divisões o que provou ser uma aposta certa graças ao "quarentão" de blazer azul-água e sabrina branca que fazia o percurso inverso aos repórteres. Já dentro da sala 2, e enquanto o senhor Karl Bartos (ex-Kraftwerk) não fazia a sua incursão computadorizada , os repórteres entretiveram-se a observar a fauna presente ao mesmo tempo que tentavam escapar às câmaras do AXN e do Porto Canal.



Luxúria electrónica - Motor


Na sala 2, as batidas oblíquas faziam as delícias de todos, dos fãs de Tangerine Dream, até à afición dos Outwork. Não sabemos se Hugo Vieira da Silva estava no Clubbing, mas se sim de certo ficou contente com a indiferença que certos "clubbers" demonstravam em relação ao som das colunas na boa lógica "só não vale curtir quieto". Fazendo "fast-forward" dos concertos de Karl Bartos e dos Motor - ambos de qualidade excelente, o primeiro polvilhado de um "best of" intemporal e o segundo polvilhado de cocaína - os dois repórteres voltaram a dirigir-se ao bar Cybermúsica (da segunda vez, o editor sénior da F.O. Dias Nu-Muzak foi mesmo apanhado pelo canal AXN que rapidamente o metralhou com perguntas bastante previsíveis) onde a festa continuava para pagantes e não-pagantes. No entanto, apesar da boa disposição a cargo da dupla LineOfTwo (onde se incluí um emloyee da já mítica loja Por Vocação), o ambiente algo homossexual precipitou a saída da equipa de reportagem, que procurou a saída que menos atentasse contra a sua virgindade anal.

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10 março 2007

Música: Requiem Laus imitam 4Taste

Após terem assistido aos episódios das últimas semanas do seriado "Morangos com Açúcar", onde a banda residente actual - os 4Tatste - assinava com um agente holandês (convenientemente chamado "Van"), a banda de melodic-metal Requiem Laus, do Funchal, decidiu copiar a ideia.

A informação chegou ao NWP através de bulletins do Myspace (o HI5 dos ricos) e foi enviada por uma das "groupies" da banda. De notar que por entre os vários bulletins da dita fã se pode encontrar propaganda anti-pirataria que afirma que os downloads ilegais matam a música (apesar de nós, no NWP acharmos que são os Requiem Laus e outras bandas de "clonetroopers" os responsáveis pela morte lenta da música). Para falar a verdade, que conceito é esse de "matar a música"? Isso é sequer possível ou é mero jargão profissional? Apesar de o NWP já estar a par desta noticia desde 4 de Março, apenas a reporta agora devido ao facto de a agenda da semana anterior estar totalmente preenchida.

O bulletin providencia então quatro websítios onde a informação do contrato foi divulgada, sendo interessante reparar que o texto é igual ou muito semelhante nos quatro sites, o que comprova que todos vivem de "press releases", ao contrário do investigador-tipo NWP. No âmbito do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação esta foi uma evidência prática de grande importância a exportar para o próximo exame escrito. Podem confirmar a referida reciclagem aqui, aqui, aqui e aqui. De notar também o facto de o site "Brave Words" afirmar que os Requiem Laus têm sido uma parte vital na música portuguesa ("Requiem Laus has been a vital part of the Portuguese music scene"), frase que aparecerá em todas as gramáticas e livros de Português (A e B) em exercicios para os petizes detectarem hipérboles que são isso mesmo.

Quanto ao managment propriamente dito, a Strictly Heavy Managment (SHM) nada tem de semelhante à homónima dos 4taste (apesar de acreditarmos que houve birra dentro da banda por parte do membro que dantes também era manager e agora vê o seu poder e masculinidade, já um pouco duvidosa, afectada - certamente um dos guitarristas). A SHM é uma agência especializada nos já referidos "clone troopers" do metal: meninos e meninas todos vestidos de preto, cabeludos e por vezes também barbudos que apenas sabem grunhir. Não estamos a dizer que a banda açoriana não tem qualidade, já que não nos demos ao trabalho de gravar novas k7's. Além do mais, com a discografia de várias dezenas de álbuns de Frank Zappa, quem precisa de ouvir metal (seja ele qual for)? Ainda a propósito dos "clone troopers" do metal, quase invariavelmente o baterista é careca. Se o leitor não acreditar, a NWP desafia-vos a comprar a revista "Loud!" e em verem por vocês próprios.

Acerca dos Requiem Laus, podemos dizer que já deram um passo para o século XXI e criaram a sua própria entrada na Wikipedia, onde descobrimos que há muito tempo atrás numa galáxia distante se chamavam apenas Requiem. Isto, claro, apenas até descobrirem "ironicamente" (nas suas próprias palavras com sotaque insular) que isso já era cliché entre bandas de metal portuguesas. O nome Requiem vem de outro cliché, uma homenagem a Mozart, o Spielberg da música clássica (para os leigos, o compositor que toda a gente que não conhece mais nenhum afirma ser o seu preferido). Em entrevista ao programa Descarga Sonora, podcast que por pura coincidência é co-apresentado pela já mencionada "groupie", o vértice dos Requiem Laus admitiu sonhar fazer um dia um dueto com David Fonseca, o homem-sophisto que canta em inglês do segundo ciclo e que se encontra num feudo não declarado com Sam The Kid.

Sandra Silveiro, crítica de metal que não gosta nada do mainstream (se excluirmos, claro, System of a Down, Tim Burton, Hello Kitty, Tamagochis e Pucca) descreve os Requiem Laus como screamo-grind-crust-core-heavy-punk-hard-emo-glitch-power-melodic-metal, mas queixa-se que os poseurs os descrevem como metal-emo-hard-punk-heavy-core-crust-grind-screamo-melodic: "As pessoas dão muita importância a rótulos. Fuck yeah!".



Disclaimer: O NWP já possui alguma experiência em lidar com o "underserved sense of accomplishment" de algumas pessoas, portanto deixamos um recado musical - conveniente no mínimo - a todos que se possam sentir lesados com as "truthful words" do NWP:

They lived on a whole bunch of nothing
They thought they looked very good
They'd never ever worry
They were always in a hurry
To convince themselves that what they were
Was really very groovy
Yes, they believed in all the papers
And the magazines that defined their folklore
They could never laugh
At who or what they thought they were
Or even what they thought
They sorta oughta be

Frank Zappa, "We're Turning Again"

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08 março 2007

Super Obituário: Capitão Steve Rogers


1941-2007
"Eu voltarei" - T-800

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Super Obituário: Vic Sage


1967-2007
"A=A" - Ayn Rand

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05 março 2007

Quase-Grande Reportagem: Portugal Fashion - aqui é que vai uma crise

Portugal é conhecido por muitas coisas, mas não é propriamente identificado como um país em que a moda vingue. A estilista portuguesa com mais créditos internacionais não está muito acima do patamar convidado-para-a-árvore-das-patacas. No entanto, nos últimos anos é notório o grande esforço por parte de uns iluminados (alguns são certamente clientes da cult classic Por Vocação, outros nem por isso...) que pretendiam criar por cá um evento capaz de rivalizar com as "fashion weeks" mais afamadas e garantir os seus 15 minutos de fama no Fashion TV. O melhor que conseguimos foi a cobertura da afterparty no Buddha Bar com a presença do mature cast da série juvenil "Morangos Com Açúcar".

Pode-se dizer que, ao contrário de países como a Itália ou França em que o negócio da moda foi complementado com o espectáculo, em Portugal enveredou-se pelo caminho inverso. E enquanto é reconhecido algum mérito e qualidade ao famoso “Moda Lisboa”, o mesmo não se pode dizer do "Portugal Fashion", o equivalente nortenho desse evento - o irmão feio e burro, portanto - ao qual se deslocou, em colaboração com a NWP, o repórter da F.O.Dias Cort&Costura Conffezzionne, por sua vez acompanhado de duas jovens que esperavam tirar algumas fotos paparazzi ao elenco de “Morangos com Açúcar” (tido como o patamar mais baixo na lista de presenças de celebridades).

E ao passo que o “Moda Lisboa” é uma espécie de brincadeira entre amigos, onde as mesmas caras apresentam colecções recorrendo a modelos já a precisar da reforma, então o “Portugal Fashion” é sem duvida o parente pobre da moda portuguesa, onde ainda há espaço a uma decoração mais barroca, frequentadores de espectáculos de casino (alguns ainda ressabiados com Elton John) e alguma música house pseudo-vanguardista que pôs muitas titias a dançar enquanto aguardavam o show.

Para grande tristeza das groupies que acompanhavam o nosso intrépido repórter (encharcado em quaaludes) as únicas celebridades que se encontravam no espaço eram Diegues (jovem famoso por ter mantido uma amizade homoerótica com o defunto Francisco Adam), Carlos Castro (famoso colunista social e presidente do clube de tiro ao alvo GLS), Ricardo Trepa (neto de Manoel de Oliveira e conhecido pela sua participação no remake de "Black Adder" realizado pelo seu avô) e o discreto casal Tenente e Nuno Baltazar. Aliás, esta "vip hunger" motivou a ida das mesmas groupies ao Clubbing do dia seguinte em reportagem a acompanhar na próxima semana aqui no NWP.


O aspecto geral do local. Gente bonita (???), algum lixo pelo chão e a presença de um colchão gentilmente cedido pelo Patrocinador.

Apesar de possuir convites para os outros desfiles, o repórter NWP/F.O.Dias preferiu poupar tempo e assistir apenas ao de Miguel Vieira, aposta mais que válida no factor “divertimento”, visto as obras deste criador garantirem sempre um brilho oleoso à catwalk. O nosso repórter passeou-se pelas instalações do Cace Cultural enquanto evitava a todo o custo as câmaras da revista Night&Style (esta aversão a meios de comunicação social inferiores que têm apenas como intuíto fazer rir quem assiste e ridicularizar quem aparece, seria uma constante na noite Clubbing do dia seguinte - "não apareço no mesmo canal do CSI" foi a sua justificação).

Toca a campainha, é hora do desfile. Após a publicidade inicial, as luzes descem qual sala de cinema e uma música bem datada ao bom estilo do primeiro álbum de Jay Jay Johanson começa a soar. Estaria Miguel Vieira preso aos anos 90, tal como a repórter do JUP que elegeu Massive Attack e Tigerman como 2 dos melhores concertos de um 2006 mais festivaleiro que um "spring break" em Miami ou New Orleans? Seja como for, optamos aqui por omitir a parte em que se satiriza o Miguel Vieira por este ser um frequentador assíduo do Via Rápida (uma discoteca que é, sem duvida, “a sua cara”) pois o NWP não troça de pessoas com cancro.

Acabado o desfile, o repórter recusou-se a seguir para a afterparty na discoteca Act, por ter ouvido boatos durante o desfile de que o último carregamento de cocaína a chegar à cidade tinha sido apreendido e por achar que o mdma não ia bem com o seu safari cola. Decidiu assim salvar a noite com um pouco de glamour hollywoodesco e passar pelo drive-in do McDonald's, qual Hillary Swank na sua ceia pós cerimónia dos Óscars.

Do espaço do evento social, o repórter trouxe ainda dois números da afamada revista Night&Style, destacando-se dois artigos: o primeiro menciona o facto do cybersexo estar na moda, alerta que foi dado pelo blog juvenil Mundo Lego; o segundo conta a história da Casa Puta Madre 69. Em ambas as ediçõe era ainda possível ver fotos de ilustres desconhecidos abraçados na noite, bem como produções de moda em que gajos carecas iam sair à noite vestidos de ganga integral num artigo que clamava que a musica ditava a roupa que cada um usava (por essa lógica, somos obrigados a acreditar que o som de eleição era o house tribal).

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04 março 2007

Crítica Cinematográfica: Idiocracy, o melhor filme que ninguém viu em 2006

Após o rescaldo dos Óscares, é a altura de analisar o filme considerado o melhor de 2006 pelo staff do NWP (apesar de só ter sido visto por um dos elementos da redacção, e nenhum ter visto um décimo dos filmes que estrearam no ano transacto). Muitos sites ou blogs cinematográficos assinalariam algum filme oscarizado ou nomeado para a estatueta eunuca. Outros, anunciariam algo de muito underground, pseudo-artístico e/ou europeu. O NWP, tentando sempre se destacar pela sua originalidade, prefere falar de um filme que não se insere em nenhuma destas categorias e que nem sequer foi mencionado pelo suposto blog de cinema mais visto em Portugal (pelo menos segundo o seu motor de busca).



Falamos de "Idiocracy", um filme que provavelmente não se poderá considerar uma obra-prima da sétima arte, mas que cumpre todas as suas funções (ou pelo menos todas as que o NWP atribui a esta arte): a) entretem, b) tem trivia e piadas disfarçadas no cenário, o que torna a visualização frame by frame divertida, c) faz-nos reflectir em temas que, de uma forma ou de outra são importantes para as nossas vidas, mas não o faz de forma preachy ou pedante, d) (bónus) é uma comédia sci-fi, estilo preferido de pelo menos um dos repórteres desta publicação.

O filme foi realizado por Mike Judge, famoso por Beavis and Butthead, King of the Hill e Office Space e foi produzido pela 20th Century Fox, o império maléfico dos media, governado com punho de ferro por Rupert Murdoch. A Fox é conhecida por transmitir as séries preferidas de todos os portugueses com TvCabo e Emule, assim como por produzir as séries de Matt Groening (The Simpsons e Futurama), o já mencionado King of The Hill e a série animada anti-pc menos original de sempre, o Family Guy (aproveita-se o episódio que parodia a FCC). A FOX é também famosa nos EU da A por dar voz a um dos nossos comentadores políticos americanos preferidos, Bill O'Reilly. Esta contextualização toda sobre a produtora não é em vão, caros leitores. Acontece que esta bela empresa que todos adoram decidiu gastar o mínimo de dinheiro a promover "Idiocracy" (ainda menos do que o dispendido por Scorsese na promoção de "Departed"). Escolheu apenas um número bastante reduzido de salas nos EU da A para o transmitir e pouco ou nenhum esforço fez para o promover. Daí, o "melhor" blog de cinema em Portugal nunca ter tido conhecimento dele.

A razão desta forma de marketing é imperceptível para nós na redacção. Mike Judge não é uma figura assim tão desconhecida do público para que o seu filme seja distribuido como um qualquer filme indie rasca. Aliás, Mike Judge até já apareceu na famosa série da MTV "Jackass" (cujo nome descreve bem a sua audiência). Até nos parece que a Fox perdeu uma boa oportunidade de ganhar mais uns trocos. A única explicação plausível é a FOX pretender fazer de "Idiocracy" um novo low-budget-gone-wild ao bom estilo de "Blair Witch", ou, mais recentemente, "Borar". No entanto, como forma de contra-ataque ao império da Fox por esta medida, a redacção do NWP decidiu fazer download ilícito deste filme em divx através de um blog que prefere ficar anónimo, ao invés de comprar o dvd legalmente. No entanto, pensámos enviar cheques avultados a Mike Judge e ao resto do elenco e crew do filme. A Fox, por sua vez, jamais meterá as suas mãos gananciosas no nosso bolso.

Quanto ao filme em si, trata-se de uma variante do típico plot da comédia sci-fi: um terráqueo do sexo masculino que vive no século XX ou XXI e que é, de alguma forma, transportado para o futuro ou para o espaço e vive uma série de peripécias engraçadas nesses ambientes que lhe são estranhos. O argumento inicial deste filme tem, portanto, várias semelhanças com Futurama ou "Sleeper", de Woody Allen: o individuo é congelado no presente e descongelado no futuro, ficando surpreendido com o mundo que encontra ao acordar, por alguma razão é preso, foge e depois encontra amigos estranhos que o ajudam a viver naquele tempo. Um argumento parecido tem o filme "Demolition Man", provavelmente o melhor filme em que Stallone entra - tivesse uma banda-sonora melhor conseguida e batia a saga de Rocky (o "asskickery" de Rambo não tem hipótese na contenda).

Esta descrição pode induzir o leitor na ideia falciosa de que o filme não tem nada de original e se limita a ser influenciado por este plot já um pouco gasto. No entanto, isto está um pouco longe da verdade já que o filme se inspira em "The Marching Morons", um conto sci fi de 1951, provavelmente a primeira história a usar este esquema narrativo.

Joe Bauers (Luke Wilson) é um simples bibliotecário do exército, contente por passar todo o dia a ver televisão. O seu Q.I. encontra-se dentro da média da restante população, assim como as suas competências físicas. O facto de ser um perfeito homem médio faz com que seja escolhido para uma experiência de criogenação sancionada pelo governo, que, supostamente duraria apenas um ano , mas que acababa por durar 500. Quando é descongelado, apercebe-se que o mundo onde vive é populado por idiotas, que não conseguem resolver os mais simples dos problemas. Os edificios e as estradas encontram-se a cair aos pedaços, os destroços de acidentes aereos não são limpos, as pessoas passam o tempo todo a comer fast food e a ver tv (os sofás têm retrete incorporada), existe um problema de fome devido ao facto de os campos serem irrigados com uma variante de Gatorade, o Presidente é um lutador de wrestling e o filme mais oscarizado chama-se "Ass", filme cuja unica cena é um rabo a expelir gases durante 90 minutos.

As previsões feitas por este filme parecem as mais acertadas de toda a sci-fi, mas desconfiamos que este alguma vez venha a ser tão citado como "1984". Se pensarmos que no ensino superior há pessoas que se queixam que têm que ler livros em inglês e não conseguem distinguir Chirac numa fotografia e que mesmo assim tiram as melhores notas, que o wreslting e o Gato Fedorento são dos programas mais adorados pelo público e que as nossas estradas estão cada vez mais esburacadas, não é dificil acreditar que no futuro a inteligência da população em geral venha a reduzir ainda mais e que os problemas mais simples não sejam resolvidos.

Fica portanto aqui a sugestão NWP para todos aqueles que sabem comprar online, ou que possuem programas de download, vejam o filme e se gostarem o divulguem pelos vossos amigos e amigas. Não se esqueçam, claro, caso sigam a segunda via, de enviar cheques avultados ao cast and crew. E já agora, uma contribuição PayPal generosa à NWP.

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26 fevereiro 2007

Cinema: Óscares 2007

Como verdadeiros amantes de Cinema, os repórteres do NWP não perderam tempo a ver os Óscares, o suposto prémio mais importante da (sétima) indústria, que serve como veiculo de propaganda para a elite liberal de Hollywood e que premeia quase sempre filmes feitos geometricamente de régua e esquadro na mão, a pensar na estatueta dourada. No entanto, por ser o "beauty pageant" mais famoso dos EU da A e, consequentemente do Mundo, achámos por bem cobrir este evento.

Os Óscares são uma espécie de Natal para os pseudo entendidos em cinema e aspirantes a realizador que só conhecem o Sr.Spielberg. Exagero nosso? Pensam vocês. Familiares e amigos juntam-se para passar uma noite a fazer apostas nos vencedores, que normalmente são conhecidos em todas as categorias por toda a gente com meses de antecedência. A excepção foi o ano em que a consciência politicamente correcta de Hollywood decidiu que era altura de uma edição especial e a acção afirmativa só galardoou negros nas categorias principais. Os mais entusiastas aproveitam a página semanal na revista do Público sobre o lixo das estrelas (aos domingos) para tirar sugestões para aperitivos a servir na fatídica noite. O tema também costuma dominar o fórum do Curto Circuito, esse baluarte do jovem português (o único em que designer panties de festival de verão familiar e batalhas Iron Maiden vs Xutos&Pontapés têm lugar).

Salvo honráveis excepções, a poção vencedora é sempre a mesma: actores e realizadores bem identificáveis, temas actuais importados de seriados de sucesso e música que vá bem com as pipocas amanteigadas. É esta a fórmula matemática feitas para ganhar Óscares, admitindo variantes ao longo dos tempos (o filme-mosaico, utilizado em "Babel" é um dos mais populares). Raramente algo de verdadeiramente "groundbreaking" para a história do Cinema sai de Los Angeles com o devido reconhecimento nas categorias principais. Mas também nesta cerimónia nem só o prémio é que interessa: os vestidos dos actores (com quem os estilistas trocam fluídos nos raros casos de heterossexualidade), as companhias, as jóias e até o jantar pós-gala (Hillary Swank foi comer hambúrgueres há 2 anos) tudo é pretexto para a VH1 fazer mais um especial Óscares.

E ainda temos discursos ensaiados ad nauseum para fazer o público chorar ou para propagandear a causa "flavour of the month" na Hollywood liberal. O NWP não assistiu à cerimónia deste ano, nem pretende perder tempo a procurar os discursos no YouTube, mas apostámos que os temas deste ano terão sido o aquecimento global e a retirada das tropas do Iraque (tema já um pouco demodé, agora os capacetes usados no Iraque é que são "the thing"). O documentário vencedor é também mais uma prova da politiquice de trazer por casa de Hollywood.

Na categoria de melhor filme ganhou, surpreendentemente, aquele que talvez mais merecesse (não esquecer que Ricardo Alves - colaborador NWP - escolheu "Departed" para filme do ano no JUP, na mesma edição em que é publicada a mais ridícula lista de melhores concertos do ano que já se viu). Este juízo de valor foi acordado na redacção do NWP (que não viu todos os filmes nomeados). Um dos repórteres viu "Babel" e "Departed" e considerou o primeiro bastante medíocre, enquanto "Departed" saltou à vista pelo seu factor "chuta cu" (quanto mais não seja pela presença dos DKM na OST). O outro de nós, por sua vez, apenas viu o "Cartas de Iwo Jima", tendo-o achado um bom filme (por ter "tirinhos") apesar de achar não merecer o Óscar por ser um filme demasiado "seguro" e a fazer-se à estatueta mais apetecida.

Scorsese, realizador de clássicos como "Taxi Driver", "Goodfellas", entre tantos outros filmes que entram no imaginário de qualquer pessoa que goste de bons filmes que misturem arte, entretenimento e uma enorme contagem de corpos, nunca tinha ganho nenhum Óscar de melhor realizador, o que diz muito do valor que este prémio tem. Que não podem ganhar todos, nós sabemos, mas vejamos o vencedor por cada nomeação perdida de Scorsese: se em 1980 perder para "Gente Vulgar" de Robert Redford foi só razoavelmente parvo (Scorsese concorria com "Touro Enraivecido"!), em 1988 o Jesus da "Última Tentação de Cristo" perdeu para "Encontro de Irmãos" (cá está o factor Óscar: escolha controlada do casting e autismo) de Barry Levinson (o mesmo de "Donnie Brasco" e "Wag the Dog"), em 1990 o infinitamente melhor "Tudo Bons Rapazes" foi vencido por "Danças Com Lobos" (o terceiro capítulo do "Padrinho" também foi nomeado).

Já desesperado, Scorsese baixa a fasquia e atira-se ao galardão com "Gangues de Nova Iorque", mas é derrotado pelo viúvo de Sharon Tate com o mega-oscaresque "O Pianista" num ano tão mau que até Almodovar foi candidato na categoria principal (no mesmo ano ainda havia, medo!, "As Horas" e, oh terror!, "Chicago"). Enfim, um ano perfeito para o consumidor-médio português que só compra o álbum ao vivo do Rui Veloso e o sucesso da estação (na música) e os filmes oscarizados no que a filmes diz respeito. Por falar nisso, a FNAC deve aproveitar a ocasião para inflacionar estupidamente o preço dos filmes de Scorsese depois de ontem. Em 2004, Scorsese ainda se esforça mais (sinónimo de que o filme ainda é pior) com "O Aviador", mas é derrotado por "Million Dollar Baby" e o seu O-factor de juntar Clint Eastwood, Morgan Freeman e a gata borralheira dos tempos modernos em 2 horas de película.

Para o compensar pela falha, a Academia juntou o "Clube dos Realizadores Barbudos" (termo cunhado nesta redacção), composto por Steven Spielberg (o realizador que toda a gente que não sabe nada de cinema considera o seu preferido), George Lucas (conhecido pela saga "Star Wars" e Howard the Duck) e Francis Ford Coppola ( Captain Eo, Jack) - que uma televisão portuguesa confundiu com Bernardo Bertolucci! - para lhe entregar o galardão. Um muito emocionado Scorsese, a fazer lembrar na pose, tiques e voz um Woody Allen (o Spielberg do alternativo) católico, aceitou visivelmente agradado a esperada estatueta. Uma nota de rodapé para a ausência na gala de Hugo Vieira da Silva, jovem cineasta e viciado no Tekken, realizador de "Body Rice", um fan favourite na redacção.

Uma nota final para o mau gosto evidente da Academia em trocar um mau Jon Stewart por uma boa Ellen DeGeneres. Desculpa Hollywood, mas não nos convences.

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18 fevereiro 2007

Nacional: Aborto, e agora?

A sociedade civil foi completamente bombardeada com a IVG nas últimas semanas, portanto a redacção do NWP achou por bem marcar mais uma vez a diferença pela positiva e dar algum descanso ao cidadão que quer estar informado. Assim, voltamos agora em período pós-referendo para conjecturar reflexões e traçar horizontes para o futuro. Que a política em Portugal é despida de interesse todos (na redacção) já sabíamos. Mas que os referendos são acontecimentos insuportáveis poucos se lembravam.

Há momentos importantes a destacar neste. Primeiro comecemos por falar nas longas discussões no Parlamento sobre o facto da pergunta estar bem ou mal formulada, quando isso não interessava rigorosamente nada porque toda a gente percebia o que estava a ser debatido. Estas discussões, numa segunda fase, passaram pela troca de bocas do género "você concordou agora é contra" ou "você era contra e agora concorda". Este tipo de discussões fazem o eleitor com dois dedos de testa pensar duas vezes no valor do seu voto em qualquer escrutínio.

Passando aos aspectos característicos da campanha, tivemos o caso de um ATL em Guimarães (estes dados estão por confirmar porque a memória de curto prazo dos jornalistas do NWP não é das melhores, qualquer erro por favor corrijam) onde os seus administradores colocaram textos anti-aborto nas pastas dos meninos, com textos do género "óh mama, porque me mataste, mutilaste, etc.". Estes textos tinham como alvo esse gang crescente de mulheres que abortam por puro sadismo e que até se dão ao trabalho de engravidar para depois poderem abortar. Um pouco à imagem de um antigo email em corrente que há alguns anos invadiu a caixa de correio de todos nós por causa de amigos mais impressionáveis (para quem não se lembra, era um "diário de bordo" de um feto/embrião - perdoem a falta de exactidão técnica - sobre a sua vida intrauterina). Se os fetos escrevessem antes de nascer acho que éramos todos pelo "Não".

Durante os tempos de antena tivémos as brilhantes campanhas do Não, com música rap para apelar à malta jovem, assim como meninas fora da idade de votar e provavelmente ainda sem o período a mostrar a sua "pró-vidaness". No entanto, a campanha do Não ganha o prémio Miss Simpatia por agradecer a quem fazia a pergunta do referendo. E não nos esqueçamos do feto humano de borracha vendido pela módica quantia de 1 euro e que em tempos futuros será um tesouro do coleccionismo português, tão cheio de idiossincrasias que a gente sabe. Para quem defende a vida, não abona muito estar a por-lhe um pricetag.

Mas mais interessante ainda foi o tempo de antena do PNR, onde os seus militantes se diziam contra o aborto, mas a favor das mães solteiras. O partido que afirmava desejar "partir os dentes ao crime" prefere que as mães tomem conta dos filhos sozinhas, o que inevitalvemente os tornará criminosos por não entrarem na linha com a pancada dos pais. Basta ver o seriado "Morangos Com Açúcar" para ver a falta que alguma violência física faz no crescimento e educação de raparigas.

Na campanha pelo Sim, encontrámos a famosa frase da ex-jurí do "Dança Comigo", o seu nome escapa-se-nos, que disse o seguinte: "Eu, como independente, junto-me a campanha do PCP". Talvez a senhora não tivesse ouvido falar de um movimento independente e puramente cívico denominado "Movimento Sim", tendo ficado com a ideia que apenas o PCP concordava com a despenalização da IVG. Ou isso, ou pretendia mostrar que defendia a ideia da votação parlamentar ao invés do referendo público.
A campanha do Sim ganhou também pontos por ter recrutado uma ex-actriz da supra-citada série "Morangos Com Açúcar" (aquela que parecia um Ferengi e que tomou conta da Becas e do Tomé quando a mãe lésbica foi de férias) para actuar num sketch em que mãe e filha discutiam o aborto. Interessante foi também ver os camaradas do POUS4 aproveitarem esta campanha para lutar pela laicização do Estado, visto os padres também terem feito campanha. É, de facto, vergonhoso que o Estado esteja a apoiar o Clero na campanha pelo Não, enquanto tenta mostrar a imagem de que é favorável ao Sim. Felizmente, Portugal conta com os sempre vigilantes trotskistas que não se poupam a esforços para limpar a areia que os porcos fascistas e capitalistas teimam em atirar para os olhos das massas.

Ambas as campanhas foram, como se pode ver, de apoio à abstenção, tendo por isso conseguido ambas alcançar uma victória esmagadora. Os nossos parabéns. O NWP espera agora pela próxima sequela deste referendo, talvez para o próximo Verão ou para o próximo Natal, desde que não calhe na fase de exames do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação (para nos permitir uma melhor cobertura) e desde que se venda mais merchandising relativa ao assunto. Aqui, mais uma vez, se denota o atraso da política portuguesa em relação, digamos, à americana. Se o referendo da IVG se realizasse no Grande Satã, a redacção do NWP já tinha comprado a sua tshirt a dizer "Eu Fui Um Aborto E Sobrevivi", ao bom estilo do merchandise nacionalista pós-11/9.

Como o Não já disse que não é só a esquerda a fazer referendos, todas as hipóteses estão em aberto. A mais provável para a NWP é a possibilidade do aborto se tornar desporto nacional e passatempo das horas de ócio. O referendo da IVG vai no futuro tornar-se o Mardi Gras português, o Carnaval de Veneza lusitano ou o Super Bowl dos referendos - como quiserem. Realizado anualmente, irá tomar o lugar dos Jogos Sem Fronteiras no coração dos portugueses, cumprindo assim as 4 funções da televisão: informar, educar, entreter e dar trabalho ao Eládio Clímaco.

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14 fevereiro 2007

Coa Breca: Anna Nicole Smith morre e media não sabem porquê

A Tanya Peters do cult classic "Naked Gun 33 1/3" morreu na passada quinta-feira na Florida aos 39 anos, sinistro que explica o excepcional atraso da edição desta semana pelo profundo luto em que toda a redacção mergulhou quando soube da notícia. Como Anna Nicole Smith morreu no "estado-Sol", o NWP procurou entrar em contacto com o Tenente Horatio Caine, mas tal não foi possível porque o oficial da polícia criminal de Miami estava a gravar um novo episódio para o seu videocast.

A playmate do ano de 1993, que chegou a ter um programa em nome próprio no canal E!, será para sempre lembrada pela megaprodução "Illegal Aliens" (2006), um épico cómico de ficção científica em que 3 bonitos alienígenas salvam o planeta Terra do Mal intergaláctico. Esta longa-metragem foi protagonizado e produzido pela beldade e deve sair no soon-to-be-gone formato DVD em Março, aproveitando o mórbido momento para capitalizar nas salas de aluguer.

O corpo de Anna Nicole será conservado até dia 20 de Fevereiro por ordem de um juíz californiano, o que deixa em aberto eventuais casos de necrofilia - crime na Califórnia, mas não no Wisconsin.

O nosso comentador residente, Luís Folião, que na semana passada estava em Newark (não confundir com New York), aproveitou para deixar a sua opinião: "Liguei para o Larry King Live e tudo, que teve um especial Anna Nicole na madrugada de sábado. É uma grande perda, tinha apostado com o Philip Michael Thomas que ainda a seduzia, mas parece que perdi 30 US$)", desabafou visivelmente triste ao telefone da redacão do NWP. Também Claudius, o vidente, nos deu a sua visão do tráfico acontecimento: "Estava mesmo a ver isto a acontecer. A Anna Nicole Smith teve períodos conturbados em madrugadas de quarto minguante com ingresso de Plutão em Sagitário e a presença inequívoca da quarta Lua. O seu filho morreu com o Sol no signo de Balança conjunto ao Nodo Norte e opondo-se à Lua - desde tempos imemoriais que isto significa má sorte. Além do mais, a oposição Sol-Lua cai no eixo 2-8 o que também adivinhava um regresso dos Smashing Pumpkins a Portugal".

Restam duas grandes dúvidas. A causa da morte da super-estrela e a questão da paternidade da sua filha, por estes dias mais disputada do que a corrida à presidência no seio do Partido Democrata.

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27 janeiro 2007

Ryszard Kapuscinski

Ryszard Kapuscinski
1932 - 2007
27 revoluções e 4 fuzilamentos depois

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23 janeiro 2007

R.I.P. Sapamurat Niyazov, 1940-2006




Devido à recente vaga de mortes entre figuras importantes do cenário político mundial como Saddam Hussein (ex-ditador do Iraque), Augusto Pinochet (ex-ditador do Chile) e James Brown (ex-ditador do ritmo), é mais ou menos compreensível que a morte de Sapamurat Niyazov, provocada por um cancro daltónico, tenha passado despercebida pelos media em geral. Afinal de contas, tem um nome complicado, e o Turquemenistão (a terra em que Niyazov nasceu, e o país que regeu por quinze anos) por enquanto é uma nação fraca, longe ainda de ter acabado a construção do seu exército de robôs com os quais irá eventualmente conquistar o mundo. No entanto, o NewsweakPorto acredita que será proveitoso para os seus leitores aprender quem foi Niyazov, quanto mais não seja para impressionar os amigos. Por isso, no período desde 21 de Dezembro de 2006 (data da morte de Niyazov) empenhou-se num extenso processo de pesquisa sobre o assunto, recorrendo a fontes obscuras como o Google, a Wikipedia e o Planet Rock Album Quis, os resultados do qual temos agora a honra de apresentar.


Requiem Pour Un Con – A Vida De Niyazov

Sapamurat Niyazov nasceu no dia 19 de Fevereiro de 1940. O seu pai morreu a defender o país contra os nazis e o resto da sua família pereceu num fogo. O jovem e traquinas Sapamurat foi então enviado para uma instituição de ajuda a órfãos, onde muito provavelmente terá tido contacto com o Artful Dodger, bem como um jovem Al Swearengen. Após alguns anos, foi deixado ao cuidado dum familiar distante.

Em 1962, Niyazov adquiriu, através do mercado negro, o seu primeiro disco: “Listen To Cliff!" do famoso Cliff Richard. A audição de temas como “We Kiss In A Shadow” e “Beat Out Dat Rhythm On A Drum” convenceu Sapamurat da decadência moral e estética da cultura capitalista – em consequência directa, junta-se ao Partido Comunista. Durante as décadas seguintes, Niyazov afirma-se como um político carismático, e quando em 1985 Muhammetnazar Gapurow é destituído do seu cargo de líder do Partido Comunista dos turcomanos da União Soviética devido a um escândalo (sexual?) relacionado com o algodão, é Niyazov o novo detentor do título.

Em 1991, com o colapso da União Soviética, Niyazov opta por tornar o seu adorado Turquemenistão uma nação independente, dando-lhe desde já uma constituição e candidatando-se imediatamente ao posto de presidente. Uma vez que ninguém consegue dizer não ao simpático aspecto de dono de tasca de Niyazov, este vence as eleições como único candidato, e instaura um regime de ditadura baseado no “sentimento nacional e étnico turcomano”. Alguns países e instituições internacionais refilam, mas não muito, porque sabem que se fizessem isso iam levar no focinho.

As inovações levadas a cabo por Niyazov a partir desta data e até à sua morte recente são demasiado numerosas para as listarmos todas. De certa forma, o seu currículo fala por si – afinal de contas, não é por nada que ele foi galardoado cinco vezes com o título de “herói do Turquemenistão” pelo seu próprio governo. Obviamente empenhado na educação política do seu povo, Niyazov facilitou a vida aos turcomanos baptizando vários monumentos, aeroportos e até um meteorito com o seu nome, impedindo assim que alguma vez esquecessem o nome do seu presidente. Por motivos pragmáticos, teve que abandonar a ideia de dar a todos os meses e dias da semana o seu nome, mas conseguiu solucionar este problema dando-lhes em vez disso nomes de membros da sua família, uma medida que anunciou na televisão, notando “this is for the homies that are no longer with us”. A maior honra, no entanto, foi reservada para a sua mãe, a inpronúnciável Gurbansoltanedzhe: para além do mês de Abril, o seu nome é também hoje a palavra turcomana para “pão”, o que explica as gigantescas filas à frente de qualquer padaria da nação. A nível económico, Niyazov soube tirar o maior proveito possível dos recursos naturais do seu pais – de facto, a riqueza mineral da nação até põe em causa a letra do hino nacional duma certa outra nação. A riqueza de gases naturais deu ao Turquemenistão o título de “nação privilegiada” no comércio com a União Europeia; em contrapartida, Niyazov acedeu a entrar num “diálogo sobre os direitos humanos”. Este mesmo diálogo foi conduzido através do MSN, e Niyazov demonstrou grande destreza no uso de emoticons e abreviações l33t, impressionando assim todos os representantes europeus e provocando um “ooh la la!” do membro francês.

Em 2004, uma campanha de panfletos contra Niyazov foi lançada na capital do país; apesar dos esforços das autoridades, não conseguiram suprimir de forma eficaz o dilúvio de propaganda. Tendo isto em conta, e tirando partido da moda dos “reality shows”, Niyazov decidiu despedir o seu ministro do interior e o comissário da polícia ao vivo na televisão, dizendo-lhes adeus com as palavras “não posso dizer que tenham tido grandes méritos ou feito muito para combater o crime”.

Niyazov, O Jurista

A legislação Niyazoviana começou por mostrar grandes semelhanças com os pensamentos daquele que poderá ser considerado a alma gémea de Niyazov, Eric Cartman. Assim, em 2001, baniu o ballet e a ópera, afirmando que “não pertencem à cultura turcomana” (um modo mais cortês de dizer que se trata de pandeleirice) e em 2004, proibiu os homens de deixarem crescer o cabelo e a barba, numa clara medida destinada a prevenir o aparecimento daquilo que Cartman chama de “godamn hippies”. Mas Niyazov também mostrou possuir uma faceta conservadora: em 2004, adicionou um “teste de moralidade” aos pré-requisitos necessários para a obtenção duma carta de condução, e em 2005, proibiu os vídeo-jogos por serem “demasiado violentos” para a juventude turcomana (a única excepção a esta regra verificou-se em 2006, aquando do lançamento do jogo ”Lego Star Wars II: The Original Trilogy”, dizendo Niyazov que “colocar um sombrero no Chewbacca é uma missão louvável para qualquer jovem turcomano”.)
Niyazov e Vladmir Putin, num momento nada tenso.

De destacar ainda: a proibição de discos e playback; uma moção levada a cabo em Setembro de 2006 que obrigou todos os professores da nação a escrever artigos de elogio a Niyazov (quem não os conseguisse ter publicado num dos jornais turcomanos teria que contar com a diminuição do ordenado, ou até mesmo o despedimento); e o facto dos cães não poderem entrar na capital, uma vez que estes, segundo Niyazov “têm um odor desagradável”.

”Niyazov – Homem De Letras”

Na ideologia de Niyazov, a literatura é algo para um grupo selecto de pessoas – prova disto é que mandou fechar todas as bibliotecas rurais, porque “os camponeses não lêem”. No entanto, isto não o impediu de publicar uma vasta obra, destinada a elucidar o seu povo sobre a glória da nação turcomana. Felizmente, grande parte desta obra está disponível em inglês, através do site não oficial de Niyazov (o recurso a uma página Tripod espelha de certa forma o apreço Niyazoviano pela tradição e o cepticismo perante as inovações tecnológicas.)

O ”Ruhnama” (não confundir com Rhianna, que é a gaja que canta o “Unfaithful”) é a obra principal de Niyazov, uma dissertação sobre o papel histórico dos turcomanos leccionada em todas as escolas da nação. Trata-se dum livro erudito, com um tom talvez demasiadamente rebuscado para a redacção do NewsweakPorto (não nos teríamos importado se houvesse mais imagens e piadas escatológicas). Mas a obra do homem não acaba aqui: o site disponibiliza também dois poemas, o assertivo “They Said” e o assertivo “You Are Turkmen”:

Let's, O my heart, walk my heart. Let's look around our land.

With lions in its fields, the beautiful land of Türkmen,

Now the day has come for the poor, sad, brave, men,

You are the Türkmen, with such heroes like Jelaleddin.


Let's select a thousand-winged horse

And travel praying over her plains and mountains

And seek for the ancestors who became part of them,

And You are the Türkmen which hosts 360 saints


Na poesia de Niyazov, encontramos principalmente uma forte influência da epopeia – o poeta valoriza a veia épica, a declamação dramática e o non-sequitor (”with such heroes like Jaleleddin”). Não é de negar o poder inspirador das palavras de Niyazov – quem poderia alguma vez responder a frases como ”let’s select a thousand-winged horse” a não ser com gritos de deleite?


Avançando um pouco no poema, deparamo-nos também com a influencia de Tolkien:


Oguz is your forefather, and Gorkut is your master,

Your memory is the history of the sixty ages.

Your Garagum is your table and treasure,

Your provision is blessed, you are the prosperous Türkmen.

Nesta estrofe, Niyazov tenta claramente estabelecer uma ligação entre os turcomanos e os orcs, admitindo antepassados em comum (“Oguz” e “Gorkut”), e remetendo para o laço cultural que é a prática sexual do “garagum”.

Finalmente, o site também disponibiliza uma selecção de pequenos textos de não-ficção escritos por Niyazov. Aqui, encontramos Sapamurat em todo o tipo de estados de espírto: alegre (“SAPARMURAT NIYAZOV IS CONFIDENT THAT LIFE OF TURKMEN PEOPLE WILL BECOME MORE PROSPEROUS AND MEANINGFUL”, começa em all caps o texto euforicamente titulado ”We Have Great Plans For The Future”), abatido (”It Is Very Difficult To Build A State” é nome de outro texto), festivo (“Saparmurat Niyazov Congratulates Turkmenistanees on Occasion of Ramadan”), enigmático (“We Have Sold Fundamental Issues”?) e até cândido (“"Turkmenistan Will Consider Joining Eurasian Power Energy System in Future"”.) Todas as leitores com dúvidas acerca do seu estado de honra poderão consultar ”The Honour Of Women And Girls”, e quem quiser material de leitura recheado de suspense irá certamente deleitar-se com ”We Will Investigate The Coup Attempt In Strict Compliance With The Law”.

Sapamurat Niyazov está morto, Ringo Star vive. Olá, 2007.





“Ruhnama”
bibliotecas, textos escolares

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