Nacional: Aborto, e agora?
A sociedade civil foi completamente bombardeada com a IVG nas últimas semanas, portanto a redacção do NWP achou por bem marcar mais uma vez a diferença pela positiva e dar algum descanso ao cidadão que quer estar informado. Assim, voltamos agora em período pós-referendo para conjecturar reflexões e traçar horizontes para o futuro. Que a política em Portugal é despida de interesse todos (na redacção) já sabíamos. Mas que os referendos são acontecimentos insuportáveis poucos se lembravam.
Há momentos importantes a destacar neste. Primeiro comecemos por falar nas longas discussões no Parlamento sobre o facto da pergunta estar bem ou mal formulada, quando isso não interessava rigorosamente nada porque toda a gente percebia o que estava a ser debatido. Estas discussões, numa segunda fase, passaram pela troca de bocas do género "você concordou agora é contra" ou "você era contra e agora concorda". Este tipo de discussões fazem o eleitor com dois dedos de testa pensar duas vezes no valor do seu voto em qualquer escrutínio.
Há momentos importantes a destacar neste. Primeiro comecemos por falar nas longas discussões no Parlamento sobre o facto da pergunta estar bem ou mal formulada, quando isso não interessava rigorosamente nada porque toda a gente percebia o que estava a ser debatido. Estas discussões, numa segunda fase, passaram pela troca de bocas do género "você concordou agora é contra" ou "você era contra e agora concorda". Este tipo de discussões fazem o eleitor com dois dedos de testa pensar duas vezes no valor do seu voto em qualquer escrutínio.
Passando aos aspectos característicos da campanha, tivemos o caso de um ATL em Guimarães (estes dados estão por confirmar porque a memória de curto prazo dos jornalistas do NWP não é das melhores, qualquer erro por favor corrijam) onde os seus administradores colocaram textos anti-aborto nas pastas dos meninos, com textos do género "óh mama, porque me mataste, mutilaste, etc.". Estes textos tinham como alvo esse gang crescente de mulheres que abortam por puro sadismo e que até se dão ao trabalho de engravidar para depois poderem abortar. Um pouco à imagem de um antigo email em corrente que há alguns anos invadiu a caixa de correio de todos nós por causa de amigos mais impressionáveis (para quem não se lembra, era um "diário de bordo" de um feto/embrião - perdoem a falta de exactidão técnica - sobre a sua vida intrauterina). Se os fetos escrevessem antes de nascer acho que éramos todos pelo "Não".
Durante os tempos de antena tivémos as brilhantes campanhas do Não, com música rap para apelar à malta jovem, assim como meninas fora da idade de votar e provavelmente ainda sem o período a mostrar a sua "pró-vidaness". No entanto, a campanha do Não ganha o prémio Miss Simpatia por agradecer a quem fazia a pergunta do referendo. E não nos esqueçamos do feto humano de borracha vendido pela módica quantia de 1 euro e que em tempos futuros será um tesouro do coleccionismo português, tão cheio de idiossincrasias que a gente sabe. Para quem defende a vida, não abona muito estar a por-lhe um pricetag.
Mas mais interessante ainda foi o tempo de antena do PNR, onde os seus militantes se diziam contra o aborto, mas a favor das mães solteiras. O partido que afirmava desejar "partir os dentes ao crime" prefere que as mães tomem conta dos filhos sozinhas, o que inevitalvemente os tornará criminosos por não entrarem na linha com a pancada dos pais. Basta ver o seriado "Morangos Com Açúcar" para ver a falta que alguma violência física faz no crescimento e educação de raparigas.
Na campanha pelo Sim, encontrámos a famosa frase da ex-jurí do "Dança Comigo", o seu nome escapa-se-nos, que disse o seguinte: "Eu, como independente, junto-me a campanha do PCP". Talvez a senhora não tivesse ouvido falar de um movimento independente e puramente cívico denominado "Movimento Sim", tendo ficado com a ideia que apenas o PCP concordava com a despenalização da IVG. Ou isso, ou pretendia mostrar que defendia a ideia da votação parlamentar ao invés do referendo público.
A campanha do Sim ganhou também pontos por ter recrutado uma ex-actriz da supra-citada série "Morangos Com Açúcar" (aquela que parecia um Ferengi e que tomou conta da Becas e do Tomé quando a mãe lésbica foi de férias) para actuar num sketch em que mãe e filha discutiam o aborto. Interessante foi também ver os camaradas do POUS4 aproveitarem esta campanha para lutar pela laicização do Estado, visto os padres também terem feito campanha. É, de facto, vergonhoso que o Estado esteja a apoiar o Clero na campanha pelo Não, enquanto tenta mostrar a imagem de que é favorável ao Sim. Felizmente, Portugal conta com os sempre vigilantes trotskistas que não se poupam a esforços para limpar a areia que os porcos fascistas e capitalistas teimam em atirar para os olhos das massas.
Ambas as campanhas foram, como se pode ver, de apoio à abstenção, tendo por isso conseguido ambas alcançar uma victória esmagadora. Os nossos parabéns. O NWP espera agora pela próxima sequela deste referendo, talvez para o próximo Verão ou para o próximo Natal, desde que não calhe na fase de exames do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação (para nos permitir uma melhor cobertura) e desde que se venda mais merchandising relativa ao assunto. Aqui, mais uma vez, se denota o atraso da política portuguesa em relação, digamos, à americana. Se o referendo da IVG se realizasse no Grande Satã, a redacção do NWP já tinha comprado a sua tshirt a dizer "Eu Fui Um Aborto E Sobrevivi", ao bom estilo do merchandise nacionalista pós-11/9.
Como o Não já disse que não é só a esquerda a fazer referendos, todas as hipóteses estão em aberto. A mais provável para a NWP é a possibilidade do aborto se tornar desporto nacional e passatempo das horas de ócio. O referendo da IVG vai no futuro tornar-se o Mardi Gras português, o Carnaval de Veneza lusitano ou o Super Bowl dos referendos - como quiserem. Realizado anualmente, irá tomar o lugar dos Jogos Sem Fronteiras no coração dos portugueses, cumprindo assim as 4 funções da televisão: informar, educar, entreter e dar trabalho ao Eládio Clímaco.
Etiquetas: 13ª edição, Nacional
4 Comments:
Esperamos que o aborto seja pelo menos uma trilogia. E quem melhor que Mark Hammil para dar cara ao próximo round?
No geral, post pouco tendencioso , o que me agrada bastante.
Agora dissertando estupidamente sobre o resto.
Quanto à pergunta, não é tao insignificante quanto isso. É óbvio que o que realmente importa, é a actuação concreta daqui pra frente , e as consequências, quer as previsíveis, quer as imprevisíveis. De preferência que se saiba lidar com ambas. Mas apesar do tema ser muito amplo,e sendo que o voto deve ser responsável, convém sabermos ao que dissemos sim e não. Parece demasiado minucioso mas é importante. Vi pessoas que não sabiam verdadeiramente o que iam votar (apesar de saber por completo ser quase impossível), e isso é um instrumento poderoso nas mãos dos actores políticos. Enfim, é complicado concordar por completo, fazer projecções e saber se o nosso voto foi para uma melhoria ou não daquilo que achamos estar mal. Mas convém separar águas.
Quanto as discussões daquele teor dissuadirem o eleitor, também compreendo. Principalmente, porque me parece que muitas vezes se está mais preocupado em demarcar posições do que em conseguir as soluções mais adequadas, dentro do possível.
Passando às campanhas, pergunto-me se os defensores da campnha do Não, ou os que imaginaram o diário de bordo, terão um plano futurista de evolução . Ou isso , ou levam à letra aquela frase do 'pense no geral, aja localmente' e o genocídio começa dentro da barriga.
Quanto à simpatia, é curioso realmente. Eu bem que tentei dizer, que não estou obrigados a nada nem em dívida para com ninguém, mas...
Muitos jovens, vá crianças, vá projectos de vida, vi eu na Baixa do Porto erguendo bandeiras, pintados, a entregar panfletos..ainda vestindo as fardas dos colégios. Só me pergunto o que acharão os pais quanto à idade de voto e o porquê da sua existência. ( isto porque não tinham sequer uma idade aproximada da idade legal mínima para se votar) . E é curioso como os pais destas crianças se devem agora resguardar com a liberdade total que os pais têm ao orientar a educação dos filhos. Mas outras liberdades já fazem mais comichão...Como defensora , em geral, da liberdade de escolha, tambem arco com as consequnências dessa liberdade de educação total ao ver resultados destes, em que se encaminha os filhos para repetirem palavras ouvidas em casa , entregarem panfletos e reagirem a dispensas com um' mas é pelo não', muito surpreso, e indignadamente com uma dose de ponderção admirável dizerem 'acha bem que uma mulher faça um aborto , assim sem mais nem menos, só porque quer?' .
Penso que o assunto foi menos partidarizado do que eu pensava que iria ser. Quanto aos senhores Padres, apesar de relativamente probidos de influenciar nas suas Missas o sentido de voto nesta questão, aproximando-se de uma Escola do Estado, fizeram-no sendo necessário no entanto ver que a Igreja não faz parte do Estado, logo a laicidade do Estado não seria afectada. A cabeça das pessoas é que é o cere da questão. Porque também nas Missas se ensina a bondade, a caridade puramente desinteressada , a paz e a conduta pessoal é o que se vê.
O referendo só vai ser desporto se cada eleitor não tiver consciência da responsabilidade do seu voto. Talvez fosse uma forma de dar mais sentido ao voto das pessoas.
Apesar do merchandising ter sido fraquito, ainda tivemos aí umas rimas, que fariam o Zé Povinho entrar numa crise existencial.
Cara Joana,
Talvez a pergunta tivesse a sua relevância, mas o que eu vi foi uma troca de acusações entre deputados sobre quem tinha votado a favor ou contra a pergunta, não sobre o que estava realmente errado nela. Provavelmente já teriam discutido isso anteriormente, antes de a aprovar, mas já aprovada não precisavam de perder mais tempo nisso. Há coisas mais importantes em que gastar energia. Quanto a idade do voto, também se viu pessoas fora da idade de votar a fazer campanha pelo sim (você sabe de quem eu estou a falar)e que provavelmente não foram instrumentalizadas pelos pais ou pela igreja, mas por partidos ou amigos, repetindo aquilo que achavam mais cool. Ambos os casos estão, na minha opinião, errados, o que me faz rir da pitalhada que volta e meia defende o voto a partir dos 16, quando na verdade deveria ser a partir dos 21 ou até mais tarde, se analisarmos a consciência política da população de JCC, por exemplo.
Quanto aos padrecas, qual quer pessoa que acredita em tudo que o melhor livro de fantasia anterior a Tolkien diz, não deveria ter o direito de votar.
Concordo com a pergunta,caro Howard. De facto não é bem a idade que condiciona a maturidade do voto, mas sim a credulidade do eleitor, que supostamente deveria diminuir com o aumento da idade, facto que na realidade não acontece na maioria dos casos (basta ver a quantidade de pessoas mais velhas que eu que acreditam no massacre do texas, ou ainda pior, no "Loose Change"). Melhor ainda, em casos como o do aborto a resposta não devia ser apenas "sim" ou "não", deveria ser necessário justificar e as melhores respostas, avaliadas por um grupo 100% independente (a equipe NWP,por exemplo)valeriam mais que as outras. Obviamente que respostas do género "voto sim/não porque sou de esquerda/direita" iam ser consideradas erradas, porque mostravam que o eleitor não passava de um cordeirinho. Respostas baseadas em religião teriam o mesmo tratamento.
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