15 janeiro 2007

Crítica Cinematográfica: Body Rice

Um tema interessante aliado a um bom cartaz e a uma primeira abordagem feita pelo suplemento cultural Y sobre o primeiro filme (e possivelmente último) do jovem Hugo Vieira da Silva levou os repórteres da Newsweak-Porto, acompanhados de F.O. Dias da F.O.Dias Cinemagique, a deslocarem-se à sala única do cine-estúdio do Teatro do Campo Alegre.

A trama situada no início dos anos 90, bem no meio do nascimento da "Rave Culture", seria o pano de fundo à acção , prometendo assim este ser não só um filme, mas também um documentário histórico.

A fé em que o jovem cineasta, que tal como os repórteres cresceu com séries de culto como Transformers, Masters of the Universe ou Chiquitittas, se preocupasse com os mais ínfimos pormenores da sua primeira curta metragem, bem como a vontade de ignorar três críticos de cinema do Público pela fraca classificação atribuída a este filme ("dispensável"), logo se desmoronou após a entrada na sala de cinema com 5 minutos de atraso.

Um surto de vontade de sair da sala assolou mentes e espíritos dos repórteres quase imediatamente depois de se instalarem no confortável cine-estúdio do Seiva Trupe. A razão estava no ecrã: uma rapariga que descia de elevador com um ar febril, parando em todos os andares, eyeliner esborratado (ou simplesmente olheiras descomunais) e má performance.

No entanto, e conscientes que a desistência está destinada aos fracos, oprimidos e aos maus críticos que depois são gozados pelos próprios criadores, os repórteres decidiram permanecer na sala, apesar da referida cena antever aquilo que se iría prolongar por 2 horas .

A ausência de dialogo, actores do presente ou passados casts de Morangos com Açúcar (uma série cheia de grandes talentos, de resto) e as várias flaws temporais que se encontravam durante o filme (alguém se lembra do Chipicau ou do Guaraná Brasil em 1991?), fez-nos perceber que este era montado pelo realizador no Windows movie maker do seu laptop Tsunami durante os tempos de loading da sua Playstation (o que justificaria os sons do Tekken enfiados a martelo e ao mais puro acaso durante a película.

Durante o filme os repórteres mantiveram um silêncio imaculado, sem trocarem ideias, para não estragar o espectáculo a uma série de “sophistos” que viam o filme de modo bastante compenetrado. Possivelmente é um deles que assina um dos dois comentários no site do Cinecartaz, falamos, claro, daquele em que se lê "há planos e raccords do outro mundo. O talento é imenso", para mais à frente acabar com uma referência aos famosos "Cahiers" o que imediatamente o torna no cliente típico da loja de culto Por Vocação. O segundo comentário é mais cínico, mas também mais acertado e pode-se ler que o realizador, Hugo Viera da Silva tem "uma visão seca, pobre e estéril da condição humana" e que retrata "personagens sem substância". Nós gostaríamos de acrescentar que as personagens de Body Rice além de inexistentes, só podem ser mesmo apelidadas de pura paisagem. O primeiro filme do jovem artista português só é cinema a espaços.

Após o intervalo, e quando se aperceberam que a reacção geral da sala era semelhante à sua, os repórteres passaram uma divertida segunda parte do filme , onde podiam à vontade criticar de forma bem humorada as cenas nonsense projectadas, que pareciam saídas de uma adaptação da Europa de Leste de Sketches dos Monty Pyton.

Apesar da análise contextual da obra levar às mesmas conclusões, a simples inclusão de temas dos óbvios Joy Division, fez-nos perceber que Hugo Vieira da Silva é uma pessoa estagnada nos anos 90 e que até considera Ian Curtis um tipo fixe, gostando de ouvir Kurt Weill aos domingos no seu Mercedes táxi branco onde transporta k7's dos Throbbing Gristle.

No entanto, nem tudo em Body Rice será tão sombrio e negativo como até aqui se fez parecer.
As cenas de raves estavam bem caracterizadas, recriando o ambiente empoeirado vivido
não só no Alentejo como no Reino Unido e na Alemanha. O guarda-roupa também está bem conseguido e a própria banda-sonora, sem ser mortalmente original, encaixa bem no contexto.

A inclusão da cena em que o jovem português pergunta ao seu amigo alemão apreciador de boa música se tem algum disco de Metallica na sua colecção fez as delicias dos presentes ao representar as falhas culturais de uma geração através deste quase-insulto inocente. Hugo Vieira da Silva teria bastante mais sucesso se explorasse terrenos como este. Com um tema que tem tanto de interessante como de pouco explorado e com o budget suficiente para recriar satisfatoriamente aquele universo, Hugo Vieira da Silva bem que poderia abandonar os delírios onanísticos e concentrar-se em filmar um guião com mais de 4 páginas.

Uma nota final, e porque o nosso objectivo também é informar, para as duas nomeações que Body Rice recebey no Festival Internacional de Locarno, arrecadando Hugo Vieira da Silva o prémio de menção especial por, dizem, "explorar novas expressões cinematográicas". É interessante visitar a página de Body Rice no IMdB onde descobrimos que o título português é "O Céu Que Nos Impede" e que houve uma pessoa a dar um "perfect 10" a Body Rice - provavelmente Hugo Vieira da Silva.



Em suma, uma tentativa falhada de mostrar um retrato físico de uma época tão rica, resultando numa montagem de paisagens ao acaso pinceladas de escassas linhas de diálogo (justificando assim a projecção deste filme numa sala de cinema ao invés de uma galeria de arte) leva-nos a crer que o jovem Hugo gastou os seus subsídios em folhas de cânhamo usando depois os trocos para comprar pilhas para a sua máquina digital. Luzes ,câmara, acção…

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esse filme é da bomba mano!

3:02 da tarde, janeiro 17, 2007  
Anonymous Anónimo said...

É "foleiro atacar o Homem".
Destruam a o obra, não o homem.
Nota-se algo de raivinha pessoal e infantil neste post/blog.
Como disse o outro "é Bomba mano".
Da próxima ide um de cada vez ver o filme. Dois "criticos" a trocar impressões numa sala quase vazia, é de mau gosto.

Para quem gostou, e que conste:

PRIZES AND SELECTIONS 2007
BODY RICE-

updated prizes and festival selections ( 5 international prizes; 10 oficial competition selections)

PRIZES

Special Mention of the jury/ oficial section-Locarno 2006

Prize Best director/ oficial competition-Mexico city 2007

Prize Best director/ oficial competition- Buenos Aires 2007

Prize Revelação- Coimbra 2007

Prize Best Sound- oficial competition- Brazil 2007

Prize Best Cinematography- Brazil 2007


Festival selections:



Roterdão 2007 (cinema of the future)

Buenos Aires 2007 (competition)

Mexico City 2007 (competition)

Fortaleza/Brazil 2007 (competition)

Hong-Kong 2007 (competition)

Bangkok 2007 (competition)

Era New Horizons 2007 (competition)

Las Palmas 2007 (competition)

Linz 2007 (competition)

Brussels 2007 (révelations)

Barcelona MICEC 2007 (screening)

http://body-rice.blogspot.com/

11:41 da tarde, janeiro 05, 2008  

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