Cinema: Óscares 2007
Como verdadeiros amantes de Cinema, os repórteres do NWP não perderam tempo a ver os Óscares, o suposto prémio mais importante da (sétima) indústria, que serve como veiculo de propaganda para a elite liberal de Hollywood e que premeia quase sempre filmes feitos geometricamente de régua e esquadro na mão, a pensar na estatueta dourada. No entanto, por ser o "beauty pageant" mais famoso dos EU da A e, consequentemente do Mundo, achámos por bem cobrir este evento.
Os Óscares são uma espécie de Natal para os pseudo entendidos em cinema e aspirantes a realizador que só conhecem o Sr.Spielberg. Exagero nosso? Pensam vocês. Familiares e amigos juntam-se para passar uma noite a fazer apostas nos vencedores, que normalmente são conhecidos em todas as categorias por toda a gente com meses de antecedência. A excepção foi o ano em que a consciência politicamente correcta de Hollywood decidiu que era altura de uma edição especial e a acção afirmativa só galardoou negros nas categorias principais. Os mais entusiastas aproveitam a página semanal na revista do Público sobre o lixo das estrelas (aos domingos) para tirar sugestões para aperitivos a servir na fatídica noite. O tema também costuma dominar o fórum do Curto Circuito, esse baluarte do jovem português (o único em que designer panties de festival de verão familiar e batalhas Iron Maiden vs Xutos&Pontapés têm lugar).
Salvo honráveis excepções, a poção vencedora é sempre a mesma: actores e realizadores bem identificáveis, temas actuais importados de seriados de sucesso e música que vá bem com as pipocas amanteigadas. É esta a fórmula matemática feitas para ganhar Óscares, admitindo variantes ao longo dos tempos (o filme-mosaico, utilizado em "Babel" é um dos mais populares). Raramente algo de verdadeiramente "groundbreaking" para a história do Cinema sai de Los Angeles com o devido reconhecimento nas categorias principais. Mas também nesta cerimónia nem só o prémio é que interessa: os vestidos dos actores (com quem os estilistas trocam fluídos nos raros casos de heterossexualidade), as companhias, as jóias e até o jantar pós-gala (Hillary Swank foi comer hambúrgueres há 2 anos) tudo é pretexto para a VH1 fazer mais um especial Óscares.
E ainda temos discursos ensaiados ad nauseum para fazer o público chorar ou para propagandear a causa "flavour of the month" na Hollywood liberal. O NWP não assistiu à cerimónia deste ano, nem pretende perder tempo a procurar os discursos no YouTube, mas apostámos que os temas deste ano terão sido o aquecimento global e a retirada das tropas do Iraque (tema já um pouco demodé, agora os capacetes usados no Iraque é que são "the thing"). O documentário vencedor é também mais uma prova da politiquice de trazer por casa de Hollywood.
Na categoria de melhor filme ganhou, surpreendentemente, aquele que talvez mais merecesse (não esquecer que Ricardo Alves - colaborador NWP - escolheu "Departed" para filme do ano no JUP, na mesma edição em que é publicada a mais ridícula lista de melhores concertos do ano que já se viu). Este juízo de valor foi acordado na redacção do NWP (que não viu todos os filmes nomeados). Um dos repórteres viu "Babel" e "Departed" e considerou o primeiro bastante medíocre, enquanto "Departed" saltou à vista pelo seu factor "chuta cu" (quanto mais não seja pela presença dos DKM na OST). O outro de nós, por sua vez, apenas viu o "Cartas de Iwo Jima", tendo-o achado um bom filme (por ter "tirinhos") apesar de achar não merecer o Óscar por ser um filme demasiado "seguro" e a fazer-se à estatueta mais apetecida.
Scorsese, realizador de clássicos como "Taxi Driver", "Goodfellas", entre tantos outros filmes que entram no imaginário de qualquer pessoa que goste de bons filmes que misturem arte, entretenimento e uma enorme contagem de corpos, nunca tinha ganho nenhum Óscar de melhor realizador, o que diz muito do valor que este prémio tem. Que não podem ganhar todos, nós sabemos, mas vejamos o vencedor por cada nomeação perdida de Scorsese: se em 1980 perder para "Gente Vulgar" de Robert Redford foi só razoavelmente parvo (Scorsese concorria com "Touro Enraivecido"!), em 1988 o Jesus da "Última Tentação de Cristo" perdeu para "Encontro de Irmãos" (cá está o factor Óscar: escolha controlada do casting e autismo) de Barry Levinson (o mesmo de "Donnie Brasco" e "Wag the Dog"), em 1990 o infinitamente melhor "Tudo Bons Rapazes" foi vencido por "Danças Com Lobos" (o terceiro capítulo do "Padrinho" também foi nomeado).
Já desesperado, Scorsese baixa a fasquia e atira-se ao galardão com "Gangues de Nova Iorque", mas é derrotado pelo viúvo de Sharon Tate com o mega-oscaresque "O Pianista" num ano tão mau que até Almodovar foi candidato na categoria principal (no mesmo ano ainda havia, medo!, "As Horas" e, oh terror!, "Chicago"). Enfim, um ano perfeito para o consumidor-médio português que só compra o álbum ao vivo do Rui Veloso e o sucesso da estação (na música) e os filmes oscarizados no que a filmes diz respeito. Por falar nisso, a FNAC deve aproveitar a ocasião para inflacionar estupidamente o preço dos filmes de Scorsese depois de ontem. Em 2004, Scorsese ainda se esforça mais (sinónimo de que o filme ainda é pior) com "O Aviador", mas é derrotado por "Million Dollar Baby" e o seu O-factor de juntar Clint Eastwood, Morgan Freeman e a gata borralheira dos tempos modernos em 2 horas de película.
Para o compensar pela falha, a Academia juntou o "Clube dos Realizadores Barbudos" (termo cunhado nesta redacção), composto por Steven Spielberg (o realizador que toda a gente que não sabe nada de cinema considera o seu preferido), George Lucas (conhecido pela saga "Star Wars" e Howard the Duck) e Francis Ford Coppola ( Captain Eo, Jack) - que uma televisão portuguesa confundiu com Bernardo Bertolucci! - para lhe entregar o galardão. Um muito emocionado Scorsese, a fazer lembrar na pose, tiques e voz um Woody Allen (o Spielberg do alternativo) católico, aceitou visivelmente agradado a esperada estatueta. Uma nota de rodapé para a ausência na gala de Hugo Vieira da Silva, jovem cineasta e viciado no Tekken, realizador de "Body Rice", um fan favourite na redacção.
Uma nota final para o mau gosto evidente da Academia em trocar um mau Jon Stewart por uma boa Ellen DeGeneres. Desculpa Hollywood, mas não nos convences.
Os Óscares são uma espécie de Natal para os pseudo entendidos em cinema e aspirantes a realizador que só conhecem o Sr.Spielberg. Exagero nosso? Pensam vocês. Familiares e amigos juntam-se para passar uma noite a fazer apostas nos vencedores, que normalmente são conhecidos em todas as categorias por toda a gente com meses de antecedência. A excepção foi o ano em que a consciência politicamente correcta de Hollywood decidiu que era altura de uma edição especial e a acção afirmativa só galardoou negros nas categorias principais. Os mais entusiastas aproveitam a página semanal na revista do Público sobre o lixo das estrelas (aos domingos) para tirar sugestões para aperitivos a servir na fatídica noite. O tema também costuma dominar o fórum do Curto Circuito, esse baluarte do jovem português (o único em que designer panties de festival de verão familiar e batalhas Iron Maiden vs Xutos&Pontapés têm lugar).
Salvo honráveis excepções, a poção vencedora é sempre a mesma: actores e realizadores bem identificáveis, temas actuais importados de seriados de sucesso e música que vá bem com as pipocas amanteigadas. É esta a fórmula matemática feitas para ganhar Óscares, admitindo variantes ao longo dos tempos (o filme-mosaico, utilizado em "Babel" é um dos mais populares). Raramente algo de verdadeiramente "groundbreaking" para a história do Cinema sai de Los Angeles com o devido reconhecimento nas categorias principais. Mas também nesta cerimónia nem só o prémio é que interessa: os vestidos dos actores (com quem os estilistas trocam fluídos nos raros casos de heterossexualidade), as companhias, as jóias e até o jantar pós-gala (Hillary Swank foi comer hambúrgueres há 2 anos) tudo é pretexto para a VH1 fazer mais um especial Óscares.
E ainda temos discursos ensaiados ad nauseum para fazer o público chorar ou para propagandear a causa "flavour of the month" na Hollywood liberal. O NWP não assistiu à cerimónia deste ano, nem pretende perder tempo a procurar os discursos no YouTube, mas apostámos que os temas deste ano terão sido o aquecimento global e a retirada das tropas do Iraque (tema já um pouco demodé, agora os capacetes usados no Iraque é que são "the thing"). O documentário vencedor é também mais uma prova da politiquice de trazer por casa de Hollywood.
Na categoria de melhor filme ganhou, surpreendentemente, aquele que talvez mais merecesse (não esquecer que Ricardo Alves - colaborador NWP - escolheu "Departed" para filme do ano no JUP, na mesma edição em que é publicada a mais ridícula lista de melhores concertos do ano que já se viu). Este juízo de valor foi acordado na redacção do NWP (que não viu todos os filmes nomeados). Um dos repórteres viu "Babel" e "Departed" e considerou o primeiro bastante medíocre, enquanto "Departed" saltou à vista pelo seu factor "chuta cu" (quanto mais não seja pela presença dos DKM na OST). O outro de nós, por sua vez, apenas viu o "Cartas de Iwo Jima", tendo-o achado um bom filme (por ter "tirinhos") apesar de achar não merecer o Óscar por ser um filme demasiado "seguro" e a fazer-se à estatueta mais apetecida.
Scorsese, realizador de clássicos como "Taxi Driver", "Goodfellas", entre tantos outros filmes que entram no imaginário de qualquer pessoa que goste de bons filmes que misturem arte, entretenimento e uma enorme contagem de corpos, nunca tinha ganho nenhum Óscar de melhor realizador, o que diz muito do valor que este prémio tem. Que não podem ganhar todos, nós sabemos, mas vejamos o vencedor por cada nomeação perdida de Scorsese: se em 1980 perder para "Gente Vulgar" de Robert Redford foi só razoavelmente parvo (Scorsese concorria com "Touro Enraivecido"!), em 1988 o Jesus da "Última Tentação de Cristo" perdeu para "Encontro de Irmãos" (cá está o factor Óscar: escolha controlada do casting e autismo) de Barry Levinson (o mesmo de "Donnie Brasco" e "Wag the Dog"), em 1990 o infinitamente melhor "Tudo Bons Rapazes" foi vencido por "Danças Com Lobos" (o terceiro capítulo do "Padrinho" também foi nomeado).
Já desesperado, Scorsese baixa a fasquia e atira-se ao galardão com "Gangues de Nova Iorque", mas é derrotado pelo viúvo de Sharon Tate com o mega-oscaresque "O Pianista" num ano tão mau que até Almodovar foi candidato na categoria principal (no mesmo ano ainda havia, medo!, "As Horas" e, oh terror!, "Chicago"). Enfim, um ano perfeito para o consumidor-médio português que só compra o álbum ao vivo do Rui Veloso e o sucesso da estação (na música) e os filmes oscarizados no que a filmes diz respeito. Por falar nisso, a FNAC deve aproveitar a ocasião para inflacionar estupidamente o preço dos filmes de Scorsese depois de ontem. Em 2004, Scorsese ainda se esforça mais (sinónimo de que o filme ainda é pior) com "O Aviador", mas é derrotado por "Million Dollar Baby" e o seu O-factor de juntar Clint Eastwood, Morgan Freeman e a gata borralheira dos tempos modernos em 2 horas de película.
Para o compensar pela falha, a Academia juntou o "Clube dos Realizadores Barbudos" (termo cunhado nesta redacção), composto por Steven Spielberg (o realizador que toda a gente que não sabe nada de cinema considera o seu preferido), George Lucas (conhecido pela saga "Star Wars" e Howard the Duck) e Francis Ford Coppola ( Captain Eo, Jack) - que uma televisão portuguesa confundiu com Bernardo Bertolucci! - para lhe entregar o galardão. Um muito emocionado Scorsese, a fazer lembrar na pose, tiques e voz um Woody Allen (o Spielberg do alternativo) católico, aceitou visivelmente agradado a esperada estatueta. Uma nota de rodapé para a ausência na gala de Hugo Vieira da Silva, jovem cineasta e viciado no Tekken, realizador de "Body Rice", um fan favourite na redacção.
Uma nota final para o mau gosto evidente da Academia em trocar um mau Jon Stewart por uma boa Ellen DeGeneres. Desculpa Hollywood, mas não nos convences.
Etiquetas: 14ª edição, Cinema