24 novembro 2006

Crítica Literária: O Futuro Livro que já não vai ser de O.J. Simpson

Embora a reputação do Newsweak-Porto enquanto guardião incansável da cultura e mais particularmente das belas-artes seja incontestável, não é nosso costume debruçar-nos sobre obras especificas. De facto, consideramos que são raras as vezes em que o lançamento de um livro, filme, disco ou pokémon novo tenha interesse suficiente para justificar uma abordagem isolada. Sejamos honestos: as últimas décadas têm sido um deserto cultural hediondo e se não contarmos aquela vez em que a DC Comics decidiu separar o Super-Homem em três (Superman Red, Superman Blue e Superman Furry ) nada de realmente valioso foi produzido durante os últimos tempos.

Mas coragem, amigos da literatura! Há uma luz ao fundo do túnel!

OJ Simpson é conhecido principalmente pela sua carreirra cinematográfica. Realmente, quem poderia alguma vez esquecer a personagem do simpático Nordberg, que ao longo da clássica série ”Naked Gun” nos ensinou a rir sobre ele, nós e o mundo através de truques larocos como o cair das escadas, o escorregar sobre uma banana e o matar a sua ex-mulher num ataque de raiva psicótica? Analisando de novo estes filmes (que tanto fizeram para nos alegrar a vida durante a Grande Depressão dos anos ’90) somos forçados a concordar com o juízo feito por José Rodrigues Canhoto Felizes, crítico literário do século XIX que definiu Simpson como “aquele mouro magnífico cujas façanhas alegram o espírito e estimulam os órgãos proibidos”.


O.J. Simpson, com uma tarte na face, cria uma rotina corajosa de “whiteface”. É o tipo de comentário artístico sobre as relações raciais nos Estados Unidos de que gente como o Chris Rock e o Dave Chappelle apenas sonha.


Em 1994, OJ retirou-se da vida pública para ir viver na ilha de Sealand (não confundir com Waterworld), onde foi aclamado visconde-mor e condecorado com a medalha da ordem dos coringas, entregue por Jorge Sampaio (que foi enviado de avião para a ilha especificamente para esse efeito). Por muito tempo (demasiado?) nada se ouviu do homem cujos amigos próximos tratam por “Naughty Ewok”, mas recentemente este silêncio foi interrompido pelo lançamento da primeira obra literária Simpsoniana, “If I Did It (How It Would Have Gone Down) (Not That I Did It) (But You Gotta Admit The Bitch Was Asking For It) (Didn’t Do It, Though)”. Nesta obra, claramente influenciada pela série “What If?” da Marvel, Simpson retrata de forma avassaladora o sofrimento de um homem acusado de ter matado a mulher que mais amava no mundo, humanizando essa figura fictícia ao mesmo tempo que cria uma atmosfera de auto-distância brechtiana através de vários recursos estilísticos vanguardistas (de notar o uso dos parênteses no título, uma técnica digna do grande poeta e parvalhão anti-semita com nome marado Ezra Pound.)

Prova incontornável da relação entre OJ e a série “What If”, esta fotografia de Simpson numa conferência de imprensa mostra que o Watcher o influencia não só na arte, mas também no vestuário.



Na verdade, o livro revela um nível de sensibilidade e humanismo que nem o visionamento dos filmes de OJ poderia antecipar, como pode ser comprovado neste excerto:

“So, right, then I woulda broken her arm, you know, and she’d be all crying and struggling and stuff, saying I’m the only ewok that she ever loved, telling me to think about the children, all those silly things womenfolk say when they don’t want you to fuck them up, right? See, that’s when I’d send in the clowns, and by ‘clowns’ I mean ‘my fist’….”


Desejoso por saber as suas opiniões sobre a obra, o Newsweak-Porto contactou Michael Richards, cómico doutorado em Ser Aquele Gajo Que Fazia De Kramer No Seinfeld. Claramente emocionado com a escrita de OJ, Richards apenas nos pôde responder com “NIGGER! NIGGER! NIGGER! NIGGER! NIGGER!”, adicionando após um período de reflexão silenciosa que “queria pão” e que “já estava a viver numa caixa de cartolina nas ruas de Los Angeles há cinco anos”.

Caption: Michael Richards com alguns amigos Afro-Americanos.

No fundo, é este “pão” metafórico de Richards que melhor resume o novo livro de OJ. É que no fundo, neste mundo pós-11 de Setembro, todos somos OJ Simpson. Todos matámos a nossa esposa. Todos somos viscondes. E todos lemos o Newsweak-Porto, cientes de que essa é a nossa única oportunidade de alcançar alguma forma de redenção.

Etiquetas: ,